Somos uma sociedade machista, patriarcal, preconceituosa e profundamente conservadora quando se trata de determinados assuntos, em particular os que envolvem as mulheres. É o caso, por exemplo, da legalização ou não do aborto. Há uma frase emblemática sobre a questão: se homem tivesse filho, o aborto seria santificado. Tendo a concordar com essa ideia.
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As várias frentes da luta
feminista |
Apesar das muitas conquistas obtidas pelas mulheres na sociedade há ainda muitos obstáculos a serem superados. Um deles diz respeito à representação política. São pouquíssimas as mulheres com mandato legislativo, em que pese a maioria do eleitorado ser feminino.
O PT inovou anos atrás ao definir claramente um percentual das vagas do partido que deveriam ser preenchidas por candidatas. A ideia foi posteriormente incorporada por outras agremiações partidárias e, finalmente, transformada em lei. Foi o suficiente? Não, é a resposta. A maioria absoluta dos partidos incluem as mulheres nas suas listas apenas para cumprir a lei. Não lhes dão condições de realmente realizar a disputa. O controle continua nas mãos dos homens.
Nos partidos conservadores as mulheres que se sobressaem são, em grande parte, esposas de caciques políticos ou apadrinhadas por estes. Elcione Barbalho é um dos melhores exemplos que temos no Pará, mas há muitos outros. Basta olhar o quadro eleitoral nos municípios. Muitas dessas se elegem na base do assistencialismo mais abjeto.
Nos partidos de esquerda a situação é um pouco melhor. Afirmo: um pouco melhor. Quando olhamos os movimentos sociais vemos claramente a intensa participação das mulheres nas suas bases, mas à medida que analisamos os postos de comando dessas organizações percebemos que os homens são a ampla maioria. Ocorre que são dessas funções dirigentes que saem grande parte dos candidatos. Ou seja, as mulheres acabam sendo alijadas.... Mais uma vez!
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Machismo e patriarcado são incompatíveis
com a democracia |
Entretanto, há um outro problema: eleger qualquer mulher não basta. Há mulheres tão machistas quanto os homens, e tão conservadoras quanto os mais conservadores dos patrões. Elegê-las não garante às próprias mulheres ampliarem suas conquistas. Na Assembleia Legislativa do Estado do Pará temos a Cilene Couto (PSDB), Josefina Carmo (PMDB), Luzineide Farias (PSD), Nilma Lima (PMDB), Simone Morgado (PMDB) e Ana Cunha (PSDB). Todas elas vinculadas aos esquemas de poder que a décadas controlam o aparelho do Estado. Há uma única exceção: Bernadete Ten Caten (PT). Deputada atuante e comprometida com as causas sociais. Todavia, surge um outro problema. São poucas as mulheres no parlamento, mesmo do campo progressista, que assumem as bandeiras de luta feministas.
Já na Câmara de Belém temos Vanessa Vasconcelos (PMDB), Mileni Lauand (PT) e Tereza Coimbra (PTB). Três mulheres de um total de 33 parlamentares. Um absurdo! Isto não representa de forma alguma a importância das mulheres na sociedade local. Por que isto ocorre?
Tivemos a oportunidade de sermos governados por uma mulher no Pará: Ana Julia Carepa. Muita coisa positiva foi feito durante o seu governo, mas sejamos sinceros: o que avançou de fato em termos de políticas públicas para as mulheres? Minha opinião: poderia ter sido feito muito mais. Então, não basta ser mulher, tem que ser comprometida até a medula com as causas das mulheres. Até mesmo porque há homens que se mostram mais sensíveis a tais causas do que muitas representantes femininas.
Diante disso tudo resolvi apoiar uma mulher na eleição deste ano em Belém: Domingas Martins (PT). Sua história de vida é de profundo compromisso com a transformação social. Desde cedo criou quase que sozinha os filhos. Passou por inúmeras dificuldades - financeiras e de outros tipos. Trabalhou ainda criança em casa de família, que em alguns casos é quase sinônimo de trabalho escravo. Apesar de tudo superou os problemas, liderou campanhas memoráveis pela educação pública através da Comissão dos Bairros de Belém/CBB, é integrante ativa do Fórum de Mulheres da Amazônia Paraense/FMAP e ocupou funções públicas - foi gestora do Distrito Administrativo do Bengui/DABEN e trabalhou no setor de feiras da Secretaria Municipal de Economia/SECOM. Há pouco tempo realizou um dos maiores sonhos da sua vida: se formou em pedagogia. Isto com quase 60 anos de idade.
Mesmo nas maiores dificuldades é difícil para qualquer pessoa encontrar a Domingas triste ou se queixando da vida. É, sem dúvida alguma, uma mulher excepcional. E o melhor de tudo: é feminista! Não tenho Dúvida que a Domingas, se eleita, vai honrar o mandato concedido pelo povo da nossa cidade, e as mulheres e suas organizações terão uma excelente parlamentar a defender as bandeiras de lutas do segmento.
Meu voto é da Domingas. Não tem volta. Caso você não queira votar nela, há outras mulheres comprometidas com suas causas. Dê uma olhada, pesquise, vote nelas. O importante que não seja qualquer mulher. Ou seja, evite a "candidata paraqueda", a "candidata sombra", a "candidata conservadora", a "candidata dondoca", a "candidata esquema das classes dominantes". Enfim, as candidatas que, se eleitas, farão mais do mesmo. Igual a muitos homens. Há boas candidatas no PT, PSOL, PC do B e PSTU. Pesquise, reflita e apoie uma delas. Minha sugestão: Domingas Martins.