terça-feira, 13 de outubro de 2020

Bonner, viva até os 100 anos. Ou mais...

Circula pelas redes sociais a informação de que William Bonner, o editor-chefe e apresentador do Jornal Nacional, o principal noticiário televisivo da Rede Globo, quer abandonar as funções porque não aguenta mais tanta pressão. Sente-se cansado depois de tantos anos à frente do telejornal.

Com a crise provocada pela expansão do COVID-19 no nosso país o Jornal Nacional recuperou boa parte da audiência perdida nos últimos anos. Não há como negar a importância do telejornal na produção de matérias de qualidade sobre os riscos da pandemia. Ainda mais num contexto em que negacionistas, terraplanistas, religiosos ultraconsercadores, oportunistas e outros desqualificados estarem à frente da coalizão que momentaneamente conduz o Estado brasileiro. Isto sem falar na desconfiança de que haja até mesmo pessoas vinculadas ao crime organizado, como retratam diversas reportagens no Brasil e no exterior.

Entretanto, não podemos esquecer jamais o papel crucial desempenhado pela Globo no golpe de Estado que destituiu a presidenta Dilma Roussef. As tantas horas dedicadas exaustivamente a criminalizar o PT e a política em geral, o seu apoio estratégico aos grupos de direita e extrema-direita que estiveram à frente das mobilizações pelo impeachment da presidenta, o papel jogado pela empresa para mobilizar diariamente a população contra o governo e os movimentos sociais do campo democrático e popular, seu apoio incondicional às ilegalidades e atrocidades jurídicas cometidas por Sérgio Moro e os golden boys da Lava-Jato, devidamente demonstrado pelo Intercept através da Vaza-Jato. Enfim, a Globo, como naquela história em que o escorpião atravessa o rio no casco de uma tartaruga, mas que no meio da viagem pica esta última por ser "de sua natureza", nunca perdeu sua natureza autoritária e golpista. Contudo, não há como esperarmos por mais 50 anos para ouvirmos seus pedidos de desculpas.

Em toda essa trajetória o papel desempenhado por William Bonner no comando do Jornal Nacional não foi pequeno ou inexpressivo. Ele foi uma peça importantíssima nesse processo de completo desmantelamento da democracia e dos direitos sociais no Brasil. E a história lhe cobrará muito caro por isso.

Não há segredos que durem pra sempre. E a cada dia somos brindados com mais revelações sobre os bastidores do golpe. As máscaras caem uma a uma. E em pouco tempo não restará um lugar sequer para os falsos profetas, bandidos, os "senhores da justiça" ou oportunistas se esconderem. Vide Joaquim Barbosa, completamente relegado ao limbo. Sergio Moro é outro cuja imagem se esfarela rapidamente. Um castelo de areia sob o rigor dos ventos da história e dos fatos.

Bocas se abrirão. Memórias serão escritas. Documentários serão produzidos. Segredos sucumbirão. No Brasil isto tem acontecido frequentemente nos últimos anos. Desde Collor de Mello pra cá os exemplos são muitos. Menos por espírito público e mais por vingança e o desejo de acertar contas. Como na máfia ou em qualquer grupo criminoso.

William Bonner não estará impune a isto. As entranhas da Globo e do golpe serão revolvidas. O odor fétido dos cadáveres insepultos contaminarão os ambientes. Daí o motivo da torcida para que William Bonner viva 100 anos ou mais. Eu nem preciso estar aqui para ver com os meus próprios olhos, mas imagino o quanto será prazeroso vê-lo confrontado aos fatos que levaram ao definhamento da nossa fragil democracia e o papel desempenhado por ele na bancada do Jornal Nacional. Boa noite, Bonner.