terça-feira, 11 de setembro de 2012

Alguma coisa está fora da ordem

A luta contra a ditadura militar no Brasil uniu diferentes forças políticas consideradas progressistas, responsáveis por diversas ações importantes, como as lutas pelas Diretas Já! e por eleições para governadores e de prefeitos das cidades consideradas "áreas de segurança nacional" - Santarém (PA), por exemplo. Durante a redemocratização se consolidou um outro campo denominado "democrático e popular" que juntava partidos de esquerda e de centro-esquerda, com o Partido dos Trabalhadores capitaneando o bloco.

O campo democrático-popular definhou ao longo do tempo, sendo possível afirmar que o mesmo já não existe mais. Portanto, há um vácuo à esquerda, um espaço ainda não preenchido. A resistência, portanto, à globalização capitalista, ao pensamento único e ao modelo hegemônico de desenvolvimento ocorre em geral de maneira fragmentada, dispersa política e territorialmente.

Cúpula dos Povos no Rio de Janeiro (foto de Guilherme Carvalho)
É verdade, porém, que, ao mesmo tempo, há experiências notáveis em andamento para suprir essa "carência". A realização da Cúpula dos Povos durante a Rio+20 é o exemplo mais recente, que já rende bons frutos por ter possibilitado a constituição e/ou fortalecimento de redes e outros espaços colegiados de lutas, resistência e de proposição de propostas políticas que se confrontam com a lógica dominante, mostrando que algo de novo está sendo construído sob o sol. Não chegamos ao fim da história como apregoam os neoliberais.

Partido Trabalhista Nacional
Entretanto, o que tem chamado a minha atenção durante o processo eleitoral deste ano é que são várias as candidaturas de militantes de movimentos sociais por partidos reconhecidamente conservadores, de direita. Um  dos argumentos utilizados é que não tinham oportunidade em partidos como o PT, PSOL, PSTU, PC do B e outros para defenderem suas bandeiras. Todavia, isso é justificativa plausível para integrar agremiações partidárias que são sabidamente linhas auxiliares das forças políticas que sempre se alternaram no comando do aparelho do Estado, e principais responsáveis pela situação de miséria e abandono porque passa grande parte da população paraense? Os fins justificam os meios? Viva Maquiavel!

Por outro lado, percebo um tanto quanto atônito através do meu facebook que diversas pessoas que conheci trabalhando com educação popular, pesquisadores(as) que sempre estiveram próximos(as) aos movimentos sociais ou que participam de importantes organizações da sociedade civil apoiam candidaturas fisiológicas. O que está acontecendo?

Partido da Mobilização
Nacional
Talvez uma das respostas possíveis esteja no fato de que se consolida na nossa sociedade uma perspectiva, cuja característica fundamental é a "desideologização" da política - podemos falar também de "tecnificação" da política, que se expressa de diferentes formas: é o voto no(a) compadre/comadre, no(a) amigo(a), no parente ou no conhecido, pouco importando onde ele está ou defenda; ou no lançamento de candidatura por um partido de direita, porque o importante é eleger "pessoas comprometidas com a luta social e os interesses dos(as) trabalhadores(as)"... Como se vê é a tentativa torpe de expurgar a ideologia do debate eleitoral. Não só isso, é a completa rendição à logica dominante do capital globalizado. É compreender a política como uma relação mercadológica, portanto, fundada na noção de oferta e procura, provedor(a) e cliente. A tentativa de explicar tal situação nada mais é do que justificar o injustificável, de não assumir de modo claro - que seria mesmo a forma honesta de agir - o abandono de qualquer utopia de transformação social.

Diante disso tudo, pouco importa manter o discurso "revolucionário" ou de compromisso com "as causas sociais", porque não é nada mais do que isso mesmo: mero discurso.


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