quarta-feira, 22 de novembro de 2017

A direita constrói a convulsão social no Brasil e se prepara para ela.

As direitas brasileiras assumiram o protagonismo da luta político-ideológica no nosso país. A bem da verdade esse protagonismo das direitas se dá atualmente em escala global, tendo as esquerdas enormes dificuldades para se contrapor a tal ofensiva de modo também global. É muito importante ressaltarmos esse caráter plural tanto da direita quanto da esquerda. Caso contrário, deixaremos de lado características relevantes de uma e de outra. No Brasil, as direitas se unificaram em torno da derrubada do governo capitaneado pelo PT e contra as políticas que bem ou mal minoraram o terrível quadro de desigualdades sociais que atravessam nosso país, como as cotas raciais e mesmo o Bolsa Família, entre outras, pois o PT não efetivou realmente qualquer mudança estrutural que colocasse em xeque o poder das elites.
Tudo parece indicar que há segmentos ultraconservadores, cujas bases ideológicas são pré-Iluministas, a capitanear a disputa política global e que são profundamente comprometidos com a globalização hegemonizada pelo capital financeiro ao mesmo tempo em que, do ponto de vista social, buscam nos remeter ao século XVIII. Uma tentativa de cruzar elementos dos séculos XXI e XVIII na construção de uma nova (des)ordem social. Os pactos que foram construídos historicamente a partir do Iluminismo e que resultaram na Declaração Universal dos Direitos Humanos, na ideia de universalização de direitos, entre outras conquistas, vêm sendo sistematicamente desconstruídos por essa direita. Sua mensagem é clara: Cada um por si, nada de Estado de bem estar social ou algo do tipo, quem quiser algum benefício que busque no mercado. Daí a violência dos ataques a qualquer forma de solidariedade ou de políticas públicas includentes. No lugar da solidariedade a adoção de práticas assistencialistas, de preferência de caráter individual e compensatórias. No campo ambiental, nada de amarras legais à livre expropriação de territórios e de seus povos pelos grandes conglomerados econômicos transnacionais; no máximo, medida mitigatórias que em nada diminuem os sofrimentos das pessoas atingidas. No campo político, a "construção de heróis" supostamente capazes de salvar a nós todos de nós mesmos (Sergio Moro, Bolsonaro, Luciano Huck e outros), a partir de pautas calcadas num falso moralismo, sexista, homofóbica, racista, com uso inteligente do medo para angariar simpatia de amplas camadas da população, da promoção de medidas criminosas para a resolução de conflitos (assassinatos, uso da "justiça" para combater adversários (lawfare), perseguição, campanhas de calúnia e destruição de biografias através das redes sociais e mídia corporativa etc.) e de suposta defesa da família para galgar postos de comando no aparelho dos Estados. Tudo para garantir a captura da democracia pelo neoliberalismo e suas corporações. É isto o que representa o governo golpista de Michel Temer e seus asseclas. É o governo da cleptocracia[1] a serviço do capital financeiro internacionalSome-se a isto tudo a implementação de uma consistente estratégia voltada à criminalização da política, a sua despolitização, diuturnamente martelada por veículos de comunicação como a Globo e seus pares; a adoção de políticas regressivas capazes de reconduzir milhões de pessoas ao mapa da fome, a pactuação com o crime organizado (em especial o tráfico de drogas) e o desmantelamento do aparelho do Estado.
O conservadorismo aprofunda suas raízes. Evidentemente, tudo isto tende a resultar no recrudescimento dos conflitos em larga escala. As elites não deixarão de ser cobradas. A que ponto e a escala de tais cobranças dependem de muitas condicionantes. Tal como afirmam diversas análises o Brasil parece ter se convertido num laboratório global de uma nova fase neoliberal, assim como o Chile o foi na década de 1970 antes de Reagan e Thatcher assumirem o comando desse processo. Nossa capacidade resistir e de impor derrotas a este projeto está sendo testada e isto servirá de lição para novos experimentos em outros países. As direitas já deram mostras de que se preparam para a convulsão social. A ditadura é uma escolha plausível para elas, pois não possuem qualquer compromisso com a democracia.



[1] A palavra “cleptocracia” significa “Estado governado por ladrões”, literalmente. O termo se refere a um tipo de governo no qual as decisões são tomadas com extrema parcialidade, indo totalmente ao encontro de interesses pessoais dos detentores do poder político.