terça-feira, 23 de julho de 2013

Cabral e Beltrame abriram as portas do inferno.

Em 1880, Auguste Rodin recebeu a encomenda
de uma porta, esta porta deveria extrair seus
temas da Divina Comédia de Dante Alighieri.
O governador do Rio de Janeiro Sergio Cabral (PMDB) e o secretário de Segurança Pública José Mariano Beltrame abriram as portas do inferno, mas onde estão as chaves para fechá-las? Explico. Ao refutarem toda e qualquer crítica aos abusos cometidos pela polícia carioca, em particular pelo Batalhão de Operações Especiais (BOPE), eles dois acabaram dando carta branca os trogloditas da corporação para "arrepiar geral". Isto é, liberaram os policiais para infringirem as leis do país e do estado do RJ, atentar contra os direitos humanos e as liberdades democráticas. O que sempre foi usual nos morros e periferias agora se expandiu para áreas nobres da capital, bem como para diversos municípios do interior. No enfrentamento às manifestações a corporação utiliza armas letais, forja provas contra ativistas, censura, intimida, ameaça, reprime, empurra, chuta, grita, espanca, mata e algumas vítimas simplesmente "desaparecem". Enfim, "toca o terror". Ontem, bastou o papa Francisco e demais autoridades se retirarem do Palácio das Laranjeiras, sede do governo estadual, onde ocorreu a recepção oficial ao Sumo Pontífice, tudo voltou a ser igual ao que tem ocorrido nos últimos tempos: prisões arbitrárias, ativistas feridos a bala, provas forjadas, censura etc. 

A Polícia Militar é, sem dúvida alguma, uma instituição profundamente influenciada pelo ideário da ditadura que se instalou no país com o golpe de 1964. Ela é considerada uma força auxiliar e reserva do Exército brasileiro, daí não ser esdrúxulo o fato de os/as ativistas sociais/contestadores(as) serem encarados(as) como potenciais inimigos, e como tal combatidos(as). Não é isso o que está ocorrendo neste momento nas ruas do Rio de Janeiro ou antes em São Paulo e nos demais estados quando das mobilizações massivas de junho último? Todavia, tal vertente autoritária encontra-se no seu próprio cerne. É bom lembrarmos que a Polícia Militar do RJ teve como um de seus comandantes o próprio Duque de Caxias, em 1832, quando a instituição era denominada Corpo de Guardas Municipais Permanentes. Aliás, esse foi o primeiro comando militar de Caxias - cujo título se deveu ao enfrentamento aos revoltosos do Maranhão (Balaiada). Este se notabilizou por combater diversos movimentos insurgentes no país durante o império (Revolução Farroupilha, revoltas liberais em São Paulo e Minas Gerais) e teve papel destacado na Guerra do Paraguai, cujas estratégias de ação foram e ainda são muito questionadas pelos(as) paraguaios(as). Também liderou as forças brasileiras na Campanha Cisplatina.
"Dança Macabra" de Hans Holbein, 1491.

Pois bem, Cabral e Beltrame em sua sanha de controlar as mobilizações nas ruas ampliaram a insegurança e colocaram a nu a incapacidade dos dois de controlar seus subordinados. Abriram as portas do inferno e não têm como fechá-la, pois a PM mostrou mais uma vez sua condição de força de repressão, cujas regras internas nem sempre dialogam com os preceitos legais ou se preocupam com hierarquia. O fato é que os dois se encontram numa delicada encruzilhada. De um lado, recuar significará o reconhecimento público de sua incompetência no tratamento dos conflitos sociais. De outro, Sergio Cabral, com a preciosa ajuda da mídia corporativa, de grandes grupos empresariais e de integrantes do legislativo e judiciário, precisa tirar o foco da sociedade sobre as atividades, digamos, nada convencionais, praticadas por ele próprio e por outros integrantes de seu governo. Esse "malabarismo" parece ter atingido um limite, pois parece cada vez mais evidente que as manifestações não cessarão tão cedo por mais que Cabral e Beltrame mobilizem todas as forças do inferno liberadas por eles.