As mobilizações que ocorrem no momento em todo o Brasil estão promovendo profundas reflexões de diferentes tipos por parte dos partidos e das elites políticas, por parte dos movimentos sociais, por parte dos governos e mesmo do judiciário, entre tantos outros. A incertezas quanto ao que acontecerá daqui por diante não é uma coisa ruim, como apregoam determinadas análises. Como diria Ilya Prigogine, o caos não é apenas desordem, mas é também construtor de novas ordens numa cadeia infinita. Estamos vivenciando uma bifurcação histórica? Ao menos para determinadas forças políticas essa parece ser uma dura realidade.
O que tem chamado a minha atenção nos últimos dias é o encarniçado ativismo político por parte de conhecidos meus pela internet. De um modo geral, compartilho com eles da esperança de que ocorram mudanças substanciais no país, que não se restringem tão somente a aspectos econômicos, pois, como diriam os Titãs, "a gente não quer só comida". Contudo, chama atenção o caráter conservador e às vezes despolitizados de muitas das críticas apresentadas. De um lado, o discurso contra a política, os partidos e os movimentos sociais - como se o povo brasileiro somente agora se mobilizasse - se tornou uma palavra de ordem que, ingenuamente, acreditam ser "a salvação do país". De outro, um misto de raiva e indignação são canalizadas tão somente em direção ao governo federal. E as grandes empresas e poderosas instituições financeiras (do Brasil e do exterior) que financiam quase a totalidade dos partidos políticos? Estas não têm qualquer parcela de culpa pelo que ocorre no Brasil? E a concentração da renda? Particularmente não vi um mísero cartaz propondo a taxação das grandes fortunas, por exemplo. Essa questão não foi incorporada pelo Arnaldo Jabor na pauta que ele apresentou aos manifestantes. Por que?
Governador Simão Jatene (PSDB) |
Saí do PT e dele me tornei um dos seus críticos por conta da sua acomodação à ordem estabelecida. Todavia, não posso compactuar com as análises que depositam nele toda a culpa pelo estado a que chegou o nosso país. Aqui no meu estado, o Pará, o PSDB vai completar 16 anos de governo em 2014. Vários indicadores sociais do Pará encontram-se entre os piores do país, a educação está em frangalhos, os servidores públicos ganham mal; o governo estadual está mergulhado em falcatruas, corrupção, nepotismo. Aqui há um verdadeiro pacto pela impunidade envolvendo setores importantes do legislativo, do judiciário e da mídia. Somente em 2010, a Assembleia Legislativa do Estado gastou com combustível mais do que toda a frota de segurança pública. O judiciário não se move quando as ações envolvem gente graúda. É só ver a estapafúrdia e abjeta condenação do jornalista Lúcio Flávio Pinto que, ao defender o patrimônio público, foi perseguido implacavelmente. O PSDB e o "Democratas" elegeram o ex-prefeito Duciomar Costa (PTB) para a prefeitura de Belém. O mesmo que teve recentemente os seus direitos políticos cassados por malversação dos recursos públicos. Belém é a capital onde o sentimento de insegurança é avassalador. A rede de abastecimento de água em todo o Estado é uma vergonha, nem preciso falar algo sobre o saneamento básico, que em muitos lugares simplesmente não existe. Os tucanos e demos destruíram a capacidade de planejamento do Pará, gastam uma fortuna em propaganda que, coincidentemente, é gerida há anos pela empresa que faz a campanha eleitoral do PSDB e ninguém faz nada contra isso. Cerca de 30 bebês morreram nesses últimos dias na Santa Casa de Misericórdia. O Pará gera pouco empregos. Nossa economia está atrelada aos interesses das grandes mineradoras, do agronegócio e das madeireiras. Isto sem falar no Jader Barbalho e seu PMDB, cujo currículo é conhecido nacionalmente. Além do Jader, os dois outros senadores paraenses - Mario Couto e Flexa Ribeiro, ambos do PSDB - foram ou estão envolvidos em escândalos de desvio de dinheiro público. Poderia escrever páginas e mais paginas das mazelas que atingem a todos(as) nós paraenses.
Senador Jader Barbalho (PMDB) |
Apesar de tudo isso, meus amigos conservadores só falam na Dilma e no PT. Quanto ao descalabro que PMDB, PSDB, PTB e Demos promoveram nas contas públicas, nos milhões desviados, na destruição do serviço público, não falam nada, absolutamente nada. Não pedem o impeachment de Jatene, não falam da corrupção escancarada etc. É como se estes fossem vestais, verdadeiros patriotas e símbolo de bons governantes. Para os meus amigos conservadores tudo está uma maravilha no nosso estado.
Não, não posso concordar com isso. Se é pra cobrar, vamos cobrar de todo mundo. Vamos exigir nossos direitos diante de quem quer que seja. Ética pela metade não é ética. É hipocrisia e oportunismo.
* Recomendo aos meus amigos conservadores que visitem o Blog A Perereca da Vizinha. Leiam os artigos e vejam as provas cabais da corrupção desenfreada envolvendo a cúpula do governo estadual.