Os apreciadores do boxe vibram quando um lutador consegue aplicar um cruzado ou um upper com eficiência. O cruzado nada mais é do que um golpe contra a lateral da cabeça do adversário. Já o upper, ou gancho, é um golpe de baixo para cima que acerta em cheio o queixo do oponente. Qualquer um deles, quando bem executado, deixa o adversário invariavelmente grogue. Alguns conseguem se recompor e continuar na luta, podendo até mesmo virar o jogo. Outros se tornam presas fáceis e acabam sendo derrotados.
As manifestações que se espalham pelo país feito rastilho de pólvora estão distribuindo cruzados e uppers em distintas direções: O Estado repressivo, os partidos da situação, os partidos da oposição, a apropriação privada dos bens e recursos públicos, a forma tradicional de se fazer política, o monopólio da informação, os megaprojetos que destroem o ambiente e colocam em risco os modos de vida de populações como a dos indígenas, entre outros. Elas, as mobilizações massivas, conseguirão derrubar seus oponentes ou, ao contrário, apenas os deixarão grogues até que se recomponham e retomem a iniciativa da luta? Esse parece ser um dos maiores dilemas do momento.
O fato é que a mídia corporativa, o aparelho estatal, os partidos e o "mundo político" ainda não conseguem entender muito bem o que está ocorrendo no nosso país. Há, porém, sinalizações claras de que determinados segmentos conservadores da sociedade brasileira pretendem fazer com que suas pautas ganhem força. Hoje mesmo um determinado general da reserva conclamou os militares a se posicionarem firmemente contra o que ele denominou "desgoverno". De um lado, Arnaldo Jabor e os "falcões" dos conglomerados midiáticos; de outro, tucanos e demos mais alguns grupos empresariais insatisfeitos com a condução da política macroeconômica articulam-se para mexer determinadas peças do xadrez político, objetivando emplacar um xeque-mate contra o governo Dilma Roussef e o PT. Estes, por sua vez, cada vez mais desconectados dos movimentos sociais enfrentam dificuldades para reagir. Parecem grogues e não há garantias de que conseguirão reagir, mesmo que alguns de seus militantes bradem que não aceitarão golpes.
Todavia, os 1% que concentram a renda e seus representantes não têm qualquer garantia de que conseguirão capitalizar o "clamor das ruas". Um exemplo elucidativo: O principal noticiário da Globo, o Jornal Nacional, sequer pode transmitir suas matérias de dentro das passeatas, pois os/as participantes simplesmente expulsaram seus repórteres e cinegrafistas. Até mesmo o competente jornalista Caco Barcelos, considerado um inimigo por parte da linha dura da Polícia Militar de São Paulo, não conseguiu fazer seu trabalho. Tal fato forçou a apresentadora Patricia Poeta a ler uma espécie de editorial tentando "limpar a barra" da empresa.
Ou seja, tudo está em aberto. Tudo pode acontecer, até mesmo nada de substancial. Ainda mais se a política continuar sendo criminalizada, inclusive por parcela significativa dos manifestantes.
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