segunda-feira, 21 de março de 2016

Pingos nos "is".


  • A ordem democrática foi sim violada com a prisão arbitrária de Lula. Não há como negar a existência de um verdadeiro complô envolvendo setores do Congresso Nacional, do Judiciário e do Ministério Público; da mídia corporativa e de grandes grupos empresariais do Brasil e do exterior para retirar o Partido dos Trabalhadores (PT) do comando do executivo. Contudo, essa mesma ordem já vinha sendo violada pelo próprio governo através do uso da Força Nacional sobre os munduruku para garantir a realização de pesquisas para os Estudos de Impacto Ambiental (EIA), peça que se constituiu num mero rito formal para viabilizar grandes empreendimentos públicos e privados na Amazônia; da militarização das favelas cariocas e dos despejos forçados para a execução de obras de infraestrutura vinculadas às Olimpíadas; do uso da Polícia Federal para expulsar indígenas de suas terras no Mato Grosso e em outros pontos do país, como na Bahia; da aprovação da lei antiterrorismo que se tornou uma arma contra os movimentos sociais; do destroçamento da legislação ambiental para viabilizar os interesses do grande capital; do privilegiamento do agronegócio e da indústria extrativa em detrimento dos modos de vida de povos ancestrais, entre tantas outras situações de violação da ordem democrática.
  • Lutar contra o golpe capitaneado pela Globo não significa em hipótese alguma defender o governo petista. Isto para os que se colocam numa perspectiva socialista, de mudanças estruturais no Brasil. Defender a democracia e suas instituições é um compromisso de todos e todas realmente engajados(as) na construção de um país melhor. Além disso, é fundamental para garantir um campo adequado ao desenvolvimento das lutas sociais anti-hegemônicas, contra as desigualdades, por justiça socioambiental e pela paz. Portanto, para nós, o que está em jogo é muito mais do que a manutenção de um governo.
  • Se por um lado o discurso do ódio contra o PT e as forças progressistas e de esquerda tem resultado em ataques verbais e físicos por parte de grupos extremistas; por outro, respinga também nos partidos de oposição, principalmente o Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), que não tem conseguido capitalizar plenamente os descontentamentos – espontâneo e produzido – da população brasileira. Tal situação abre um flanco enorme para a aventura política e a busca por “salvadores da pátria”, como o próprio juiz Sergio Moro ou o deputado Jair Bolsonaro, este do Partido Social Cristão (PSC).
  • Infelizmente para a Amazônia a continuidade ou não do governo Dilma Roussef não altera substancialmente o papel da região no processo de acumulação ampliada do capital. O aprofundamento da conexão da Amazônia aos mercados internacionais, a instalação de complexos sistemas logísticos para dar vazão à exploração de seus recursos naturais, a violação continuada dos direitos de povos indígenas e comunidades tradicionais, a alteração de marcos legais para viabilizar a exploração e expropriação de territórios, a criminalização de movimentos sociais e de suas lideranças, a inviabilização financeira das organizações que se opõem ao modelo de desenvolvimento hegemônico e o combate político-ideológico a elas com base nos discursos do progresso e da ordem social, permanecerão como elementos estruturantes da ação do Estado e das corporações econômicas nacionais e transnacionais nesta parte do território brasileiro. O PT não romperá com essa lógica.

2 comentários:

Sergio Martins disse...

Muito bom post. Creio que tenho afinidades com essa avaliação. Parece ser a mais acertada no momento. Mas o problema pra mim Guilherme, é que de um jeito ou outro, pra quem vive as atrocidades e violações aqui nos rincões amazônicos, a democracia é ornamental. Nunca se realiza, é uma eterna potência. Não porque não haja seus defensores, não porque ninguém a reclame como tal, mas porque no sistema da colonialidade interna do poder, servimos sempre a...nunca fomos e nem seremos considerados nesse entrelaçamento de coisas do poder difuso e central ao mesmo tempo. A tal Modernidade não é que nunca chegou para nós, é que nós somos o seu avesso. Essa é nossa condição nesse cenário, ser o avesso da Modernidade. Sem nós, ela não é possível. Somos assim condição de possibilidade pra que essa zorra toda continue. É como se fôssemos os campos de cultivo de energia da Matrix (lembra do filme?)
A Amazônia merece ser pensada por si, e não por quem a desconsidera. Temos tudo pra ter uma vida boa. Mas talvez essa cultura política incrustada em nós pela colonização e mesmo pelo processo insuficiente de "desconstituição" desses colonizadores de XVI, que nos enfiou dentro de um Estado de Direito, onde todo mundo passou a ser o tal do "cidadão", não conseguimos pensar nossa liberdade para além dessa estrutura burocrática que é o Estado. Vou te dar um exemplo, que deves ter percebido. No Fórum Panamazônico em Macapá, havia uma dúzia de militantes do PSOL falando em 'Bem Viver" como um projeto a ser apresentado pela esquerda e disputado em eleição, inspirados pela aparição desse Direito nas Constituições dos governos da Bolíivia e do Equador. Isso seria qualquer outra coisa, menos "Bem Viver". Fazem isso porque não conseguem pensar sem a ideia de tomar o poder! Isso não é tem a ver estritamente com uma tese anarquista tosca e sem reflexão, mas uma necessidade histórica de podermos caminhar com nossas próprias "instituições". Disputar o aparato de Estado, ganhá-lo como se fez, produzir uma série de medidas de inclusão social via mercado, que incomodaram mas não mudaram as estruturas retrógradas desse país (até porque não se prestavam claramente a isso), e hoje ser escorraçado de lá, seja talvez uma amostra também de que tudo isso não nos serve. E a cara deslavada de setores do PT falando em revolução democrática...
Essas instituições que estão aí, solapadas por esse processo golpista, não nos servem para um projeto de libertação (pra não usar o termo emancipação), pelo contrário, nos fazem crer que podemos ter uma arena melhor para o combate classista - como insistem alguns - ou para a luta por sobrevivência, como também tenho aderido ultimamente como a melhor descrição de nossa condição amazônida. Não importa, não se trata de um cenário com menos democracia ou mais democracia, melhor ou pior para as lutas sociais. Estas precisam assumir que dessa farsa democrática, desse jogo de poder, não querem participar, e sim construir sua própria caminha. Estamos numa guerra caro amigo, sabes disso. Nem sempre de lados mais fortes belicamente sairá o vencedor. Há quem escolha trincheiras, guerrilhas, ataques surpresas, e assim conseguem desestabilizar a ordem e se impor. Espero que entendas isso como metáfora mesmo, senão vão enquadrar a gente como terroristas.

Abrç meu caro.

barbarasgaber disse...

Casino-Games-how to get the best of the best gambling
The 전주 출장마사지 best casino gambling site with casino games · 당진 출장마사지 Play Slots.lv · 당진 출장마사지 Play Blackjack · Roulette · Video Poker. There's 경주 출장샵 no 천안 출장안마 better place than here at