segunda-feira, 19 de outubro de 2015

A "ética" pela metade. Ou a "ética" utilitária.

Ao olhar a grande quantidade de mensagens que circula pela internet criticando duramente a corrupção em nosso país chama atenção a seletividade dos questionamentos. De um lado, setores conservadores que querem o rompimento da ordem legal, exigindo a volta dos militares ao poder em nome "da família e da democracia", que acusam o governo federal e seus aliados de estarem envolvidos nos "piores escândalos de corrupção da história brasileira", são os mesmos que em cartazes afirmam que sonegação não é crime. Ou seja, defendem o questionável ponto de vista de que sonegar entre R$ 300 e R$ 400 bilhões de reais por ano é uma atitude normal já que, segundo eles, o Estado brasileiro e "inchado" e políticas sociais como o Bolsa Família são apenas estratégias de dominação dos setores "comuno-petitas" para se manterem no poder. São os mesmos que fecham os olhos para as maracutaias de Eduardo Cunha, presidente da Câmara dos Deputados, não batem panelas de seus apartamentos contra a corrupção do PSDB, do DEM, PPS e outros partidos que pregam o impeachment da presidenta Dilma Roussef, se opõem às cotas para estudantes negros(as), pregam diuturnamente que direitos humanos é só pra defender bandidos, que vivemos numa ditadura bolivariana e por aí vai. Jogam para debaixo do tapete o fato de que durante a ditadura civil-militar que dominou o país a partir do golpe de 1964 era simplesmente impossível realizar qualquer denúncia contra a corrupção dos poderosos de plantão. Certa vez o jornalista Lúcio Flávio Pinto publicou matéria em que citava uma afirmação de Delfim Neto, ex-todo poderoso da economia, de que somente na construção da hidrelétrica de Tucuruí foram desviados mais de R$ 1 bilhão de reais. Daí o ódio dos conservadores pela história, tentando a todo custo reinterpretá-la para atender aos seus interesses mesquinhos e autoritários. Ou alguém esqueceu da "ditabranda"? Esses setores amam a Operação Lava-Jato, mas odeiam a Zelotes, justamente a que coloca na mira da lei algumas das maiores fortunas do país por crime de sonegação.
De outro lado, porém, há segmentos sociais - entre eles os/as próprios(as) petistas - para quem o PT e seus aliados são meras vítimas da perseguição de poderosas elites golpistas que querem reconquistar a presidência da República. Para eles não houve corrupção na Petrobrás e em outras empresas estatais, o BNDES não foi utilizado como ferramenta para favorecer poderosos grupos empresariais brasileiros e transnacionais, conformando oligopólios em diferentes segmentos da economia; o partido não se beneficiou de esquemas de desvio de recursos públicos para garantir-se nas eleições e nem renegou bandeiras históricas de luta dos(as) trabalhadores(as) brasileiros(as). Afirmar o contrário é correr o risco de ser lançado à fogueira como um membro da direita.

Em ambos os casos a ética serve apenas como uma ferramenta da disputa político-ideológica, muitas vezes para justificar o injustificável. Nesse contexto a ética enquanto valor importante para a vida em sociedade definha a ponto de se tornar uma peça, cuja utilidade obedece ao cálculo político pragmático onde o conjunto perde em benefício de alguns "abençoados". Cunha não nos deixa mentir.

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