segunda-feira, 16 de março de 2015

O PT nos levou às cordas

Numa luta de boxe as cordas tanto podem servir para que um lutador em desvantagem momentânea tenha tempo para respirar e iniciar o contra-ataque, como podem significar o fim da luta já que o nocaute é uma possibilidade sempre presente. Pois bem, a esquerda brasileira encontra-se neste momento nas cordas, dado a ofensiva política dos setores conservadores. Estes, conseguiram impor sua pauta e suas demandas à sociedade. E o PT tem grande responsabilidade por essa situação.

Ao longo dos doze anos de governo sob comando petista bandeiras históricas foram secundarizadas ou simplesmente negligenciadas. Tudo para garantir a dita governabilidade. A reforma agrária foi riscada dos manuais partidários e das ações governamentais em benefício do agronegócio. A democratização dos meios de comunicação jamais foi abordada de maneira decidida durante o período, e agora o partido sente na própria pele o resultado de tamanha covardia. A reforma política mofou nas gavetas e somente foi trazida à luz após as mobilizações de junho do ano passado. Todavia, logo os ânimos se arrefeceram e tudo voltou ao "normal". Por conta dos ataques violentos capitaneados pela mídia corporativa o governo deve retomar o debate acerca da reforma política. A taxação das grandes fortunas continua a ser um tabu. O modelo neoextrativistra vem sendo reforçado e com isso a Amazônia e os demais ecossistemas brasileiros correm mais riscos do que antes. A política oficial executada a partir do BNDES de constituição de "campeões" por ramos produtivos levou à formação de oligopólios. Por sua vez, a prioridade de pagamento aos agiotas da dívida pública debilita a área social.

O PT acreditou firmemente que a "cidadania pelo consumo" seria suficiente para reverter as desigualdades históricas existentes no nosso país e, de quebra, desmontar a estrutura de poder das elites. Contudo, tal estratégia se mostrou frágil posto que insuficiente para atingir tais objetivos.

As ações e omissões petistas fizeram com que um conjunto expressivo de movimentos sociais se afastassem do partido. A divisão no interior desses movimentos se aprofundou ao longo dos governos Lula e Dilma. O problema é que o avanço das forças conservadoras do país nos força a também tomar as ruas em defesa da democracia e de suas instituições. O desafio, portanto, é fazer isto sem que tal ato seja compreendido enquanto defesa do governo Dilma. A causa em jogo é muito maior e precisamos estar à altura dos desafios da conjuntura. Façamos a nossa parte. O PT que faça a sua.

Um comentário:

Pantoja Ramos disse...

Ótima análise. No Estado do Pará, a não reeleição da Governadora petista ao invés de gerar uma revolta interna em prol da recuperação das bandeiras, foi um verdadeiro Happy Hour na primeira reunião geral após o fim do mandato no comando do Pará. Aquilo foi emblemático da perda de filosofia.