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Giorgio Agamben |
O fato é que para enfrentar os enormes desafios de um dado momento histórico é fundamental não render-se a ele próprio, prender-se às evidências imediatas como se fossem a verdade em si. É bom lembrar que foi no período entre as duas grandes guerras mundiais que se consolidaram perspectivas analíticas que marcaram profundamente o século XX: a psicanálise (Freud), a teoria crítica (Escola de Frankfurt), o tempo profundo (Braudel), o Estado como planejador do desenvolvimento e de imposição de certos limites à anarquia do mercado (Keynes), a ideia de luta contra-hegemônica em vista da construção do socialismo (Gramsci) e outras mais. Ou seja, justamente no período em que a humanidade se viu capaz de destruir-se em larga escala, de profunda desesperança quanto ao futuro, eis que alguns(mas) tiveram a capacidade de "sair de seu tempo" para pensar o seu próprio momento. É interessante dizer que Braudel formulou boa parte de seu pensamento quando prisioneiro dos nazistas durante cinco anos. Portanto, em condições extremas e sem que ele tivesse qualquer certeza quanto a sua própria sobrevivência.
Mas qual o motivo de toda essa reflexão? Há um objetivo bem definido: tentar demonstrar que parte considerável da crise política que ocorre no Brasil neste momento se deve ao fato de o Partido dos Trabalhadores (PT) ter se tornado tão contemporâneo deste tempo que parece ter perdido a condição de capitanear um processo de mudanças estruturais para além da cidadania de mercado propiciada pelo aumento da capacidade de consumo das classes populares. Não por mera coincidência Marcos Valério operou tanto para o PSDB quanto para o PT. Da mesma forma o "doleiro" Youssef e outros agiram nos mesmos esquemas petistas, tucanos etc. Ou seja, "entrou no jogo" sem questionar suas "regras", seus "métodos".
Ter a capacidade de não render-se completamente à contemporaneidade é fundamental para alimentar utopias, daquelas que nos levam à frente, que promovem mudanças em benefício da sociedade. E isso é algo que vem sendo sistematicamente negligenciado.
Ter a capacidade de não render-se completamente à contemporaneidade é fundamental para alimentar utopias, daquelas que nos levam à frente, que promovem mudanças em benefício da sociedade. E isso é algo que vem sendo sistematicamente negligenciado.
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