Pororoca, macaréu ou mupororoca é a forma como são denominados os macaréus que ocorrem na Amazônia. Trata-se de um fenômeno natural produzido pelo encontro das correntes fluviais com as águas oceânicas. O macaréu é o choque das águas de um rio caudaloso com as ondas durante o início da enchente da maré.
segunda-feira, 14 de julho de 2025
A hora é agora!
segunda-feira, 28 de abril de 2025
Os computadores quânticos irão nos salvar?
Na reportagem exibida no último domingo (dia 27/04) durante o Fantástico, programa da Rede Globo, o repórter mostrou-se fascinado pela capacidade dos computadores quânticos de darem respostas em poucos minutos a questões que poderiam levar alguns sestilhões de anos pelo sistema convencional em vigor. Realmente não há como ficar indiferente a essa tecnologia que, entre outras conquistas, pode contribuir a tratamentos que levem à cura de várias doenças ainda existentes. O problema é que a crença cega na tecnologia pode resultar em ilusões e a novas formas autoritárias de controle social, bem como a relações ainda mais desiguais de poder. Marx já alertava em pleno século XIX sobre a possibilidade de a tecnologia ser empregada para aumentar o poder, a riqueza e a exploração dos(as) trabalhadores(as) por parte da burguesia, justamente por ela não ser "neutra" e integrar uma sociedade dividida em classes, cujos interesses são antagônicos.
Em determinado ponto da reportagem foi afirmado que os computadores quânticos podem, inclusive, nos ajudar a salvar o planeta. Aqui reside dois problemas fundamentais. O primeiro é que a Terra não precisa de nós para continuar existindo. Se alguém precisa ser "salvo" somos justamente nós, que podemos desaparecer enquanto espécie graças ao processo destrutivo em larga escala oriundo da expansão desenfreada do grande capital - particularmente o financeiro. O segundo é que reforça a perspectiva ideológica de que a solução para as crises climática/ambiental se dará inevitavelmente pela tecnologia e não pela política, tão a gosto de certo ambientalismo de mercado. Contudo, quem de fato controla as "novas tecnologias"? Quem tem o poder real de definir prioridades?
Esse fetichismo tecnológico tem grande capacidade de sedução, enormemente ampliado pelas mensagens emanadas através mídia corporativa e das redes ideológicas utilizadas pela burguesia para fazer com que seus valores de classe sejam compreendidos como valores universais da sociedade. As sereias* da mitologia grega também tinham grande poder de sedução, mas os navios afundados e os marinheiros que se lançavam ao mar diretamente aos "braços da morte" nos ensinam sobre os perigos de certos "encantamentos".
* As sereias (Séphora) eram criaturas híbridas, com corpo de ave e cabeça de mulher, que atraíam os marinheiros com seus cantos sedutores, levando-os à morte.
quinta-feira, 23 de janeiro de 2025
A democracia virou um problema. Que tal destruí-la?
A racionalidade neoliberal é esse modo de ver e atuar no mundo que faz com que tudo e todos sejam tratados como objetos negociáveis. Essa racionalidade colonizou o Estado, as instituições, as pessoas e inclusive o Direito, fazendo, por exemplo, com que as garantias fundamentais passassem a ser percebidas como obstáculos à eficiência do Estado ou do mercado. Em linhas gerais, pode-se dizer que a racionalidade neoliberal se caracteriza tanto por transformar o mercado em modelo de todos os relacionamentos como por seguir a lógica da concorrência e o ideal de ilimitação, instaurando-se uma espécie de "vale tudo" por dinheiro e sucesso.
É uma consequência necessária daquilo que vários teóricos chamam de racionalidade neoliberal. Isso se dá em todo o mundo. Por evidente, em países lançados em uma tradição autoritária, em democracias de baixa intensidade, a pós-democracia se instala de maneira quase imperceptível. Um país como o Brasil, no qual parcela considerável da população prefere apostar no uso da força em detrimento do conhecimento, marcado tanto pela naturalização da desigualdade e da hierarquização entre as pessoas quanto pelo medo da liberdade, a pós-democracia se instalou sem enfrentar resistência.
quinta-feira, 16 de janeiro de 2025
Interessa fazer alianças?
A dinâmica das lutas sociais mudou completamente com a expansão da globalização capitalista neoliberal. Os obstáculos levantados por esse processo dificultam a resolução de problemas no âmbito exclusivamente locais. Mesmo questões básicas às áreas urbanas e rurais como a coleta e tratamento do lixo, por exemplo, não encontram soluções apenas nos estritos limites municipais. Ainda mais se tratando da Amazônia onde a maioria absoluta das municipalidades são completamente dependentes dos repasses de recursos estaduais e federais. Esse quadro fica ainda mais complicado no que diz respeito ao domínio de vastas extensões territoriais amazônicas pelo narcotráfico. Isto não significa de modo algum que as lutas locais perderam significado. É nos territórios que a vida encontra significados (no plural) e é a partir deles que a engrenagem das mudanças se movimenta. Todavia, boa parte das soluções somente serão alcançadas com a articulação em rede dessas mobilizações territoriais com as demais escalas - do local ao internacional.
Nossa realidade não pode ser pensada como um bolo que é feito de diversas camadas, uma sobre a outra. Não! O internacional está no local, o local no nacional, o nacional no regional e assim por diante. Se um dia já nos foi dito que a luta da classe trabalhadora é internacional, hoje, os atores sociais contestadores do sistema são múltiplos e precisam atuar nessas diferentes escalas, ao mesmo tempo. O fato é que qualquer organização que não esteja preparada para essa nova situação tende a sucumbir. Esta dinâmica serve para as lutas por saúde, educação, regularização fundiária, coleta e tratamento de esgoto, defesa da democracia, enfrentamento às crises climática e ambiental e outras mais.
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A vida passa por aqui. |
A realização da COP-30 na Amazônia contribuiu de certa forma com processos já em andamento de construção de convergências entre organizações das sociedades civis do Brasil e de outros países que almejam estabelecer objetivos e programas comuns de ação, compartilhamento de expertises e recursos. É o caso, por exemplo, de iniciativas como a Cúpula dos Povos, o Movimento pela Terra e Pelo Clima, a COP das Baixadas, a COP do Povo, o Fórum Social Pan-Amazônico (FOSPA) e a Rede Eclesial Pan-Amazônica (REPAM).
São muitas as iniciativas agregando a diversidade de atores sociais da região e de fora dela em torno de redes (multi)temáticas: agroecologia, ambientalismo, reforma urbana, luta contra o patriarcado, defesa dos direitos socioterritoriais de povos indígenas e comunidades tradicionais, monitoramento do setor financeiro e de grupos empresariais, fortalecimento da democracia e de suas instituições, entre outros. Todavia, profundas divergências vieram à tona tendo como centralidade o debate acerca das alternativas às crises climática e ambiental e ao modelo hegemônico de desenvolvimento. A relação da exploração do petróleo com a transição energética é um exemplo de problemática que muitas vezes coloca em posições opostas integrantes do campo progressista/contrahegemônico.
Por outro lado, os blocos hegemônicos de poder interessados em fazer expandir o controle do grande capital sobre os territórios e seus recursos têm colocado em prática uma das máximas da estratégia de poder/militar: dividir para governar. Nesse sentido, estabelecem parcerias com organizações da sociedade civil e desembolsam vultosos recursos às mesmas, realizam pressões de todo tipo, ameaçam, destroem políticas públicas inclusivas, cooptam organizações de base e suas lideranças e contam, inclusive, com a efetiva participação de parcelas dos movimentos sociais e de ONGs, além de integrantes de instituições de ensino e pesquisa. O “marketing verde” na mídia corporativa é outra dessas ações, utilizando fartamente a imagem de figuras públicas que contam com a simpatia de população. Isso tudo tem contribuído ao recrudescimento de divisões no interior do campo progressista.
O momento atual apresenta condições adequadas para o estabelecimento de fortes e duradouras alianças em defesa da Amazônia e da vida no planeta. Mais do que nunca a constituição de uma Aliança dos Povos da Floresta é necessária. Chico Mendes continua vivo, atual. Uma poderosa rede desse tipo teria condições de atuar nas diferentes escalas, promover massivas mobilizações sociais e efetivamente atravancar o projeto destruidor capitalista neoliberal na perspectiva de outros modelos alternativos. Então, por que as grandes organizações da Amazônia brasileira não avançam nesse sentido? Quais obstáculos impedem o estabelecimento de alianças estratégicas? As possíveis divergências existentes impedem o alcance desse objetivo? É possível a mediação desse processo? Alguém se disporia a dar o primeiro passo?
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Chico Mendes: mais atual do que nunca. |
Em tese, ganhos de curto e médio prazos obtidos a partir de pressões, negociações e parcerias com o governo federal e/ou outras instituições não impedem a busca por alianças estratégicas em torno de um projeto contrahegemônico, de longo prazo. A questão é complexa e ao mesmo tempo simples: o capitalismo nos levará à morte, porque a morte é a mola que alavanca o sistema. A morte em vida, inclusive, de pessoas e/ou organizações.
segunda-feira, 6 de janeiro de 2025
Aquaman 2 e o engodo sobre as crises climática e ambiental.
Engodo pode ser compreendido como um "artifício com que se tenta atrair, aliciar ou induzir alguém; ardil, manobra, tapeação". Ou seja, engodo tem o mesmo significado de cilada. Mas o que isso tem a ver com o filme Aquaman 2: O Reino Perdido, lançado em 2023? Vamos começar com um resumo do filme. Aquaman vive tranquilo cuidando do seu filho e, ao mesmo, tempo, governa o reino de Atlântida. Tarefa, aliás, que ele acha enfadonha, um saco. Lá pelas tantas Arraia Negra, um de seus inimigos e interpretado por um ator negro, põe em prática um plano para libertar uma força maligna presa há séculos por conta de um feitiço. Essa força do mal está congelada. Qual então é o plano do Arraia Negra? Acelerar o aquecimento global que já vinha acontecendo, utilizando um tipo de combustível altamente poluente escondido no fundo do oceano. O derretimento das calotas polares era necessário para se chegar ao vilão aprisionado e libertá-lo.
É preciso dizer que a tal força maligna orienta Arraia Negra para que se aproprie de armamentos e veículos criados a partir de tecnologias antigas, assim como de um tridente que lhe dá grande poder. Por conta disso, Aquaman tem que superar suas divergências com o irmão e fazer com este uma aliança que garanta a sobrevivência de Atlântida e do próprio planeta, além de impedir o retorno do coisa ruim.
Todas e todos sabemos do poder das mensagens subliminares presentes nas produções cinematográficas de Hollywood. Nelas, os Estados Unidos sempre aparecem como povo e governos amantes da liberdade, os que defendem o mundo das denominadas por eles como forças do mal e/ou totalitárias; os que são comprometidos com a vida, a democracia e suas instituições. Não à toa a bandeira estadunidense aparece ao final de muitos filmes, como os do Homem-Aranha ou Super-Homem.
No filme do Aquaman o capitalismo não existe. Não é a força destruidora deste que está levando o planeta cada vez mais perto do precipício. Não é a sanha deste por lucro que está promovendo a destruição de ecossistemas e colocando em risco grandes parcelas da população mundial. Por outro lado, de acordo com o filme, a saída ao caos que nos encontramos está na tecnologia e não na política. Mas quem controla essas tecnologias oferecidas como "alternativas"? Quem controla os capitais que as cria, patenteia e vende?
O filme Aquaman 2: O Reino Perdido é um verdadeiro canto da sereia, uma exaltação à despolitização do debate sobre as crises climática e ambiental. Suas mensagens subliminares promovem a acomodação e a crença de que os que detêm a tecnologia "irão nos salvar". Estamos diante de um discurso e um conjunto de práticas que somente interessa aos mercadores do clima, às corporações transnacionais que pretendem ganhar mais dinheiro às custas da destruição da Terra, a poderosos Estados nacionais, às empresas de consultoria e consultores(as), às ONGs-empresas, à mídia corporativa, às religiões-empresas etc... Enquanto isso, o capitalismo é o verdadeiro "Reino Perdido" que precisa ser encoberto para que seus crimes permaneçam impunes. Um espelho da COP-30?