Para que governos, corporações econômico-financeiras nacionais e transnacionais, mídia corporativa, empresas de consultoria e de certificação, ONGs-empresas e outros segmentos sociais comprometidos com as alternativas de mercado às mudanças climáticas avancem substancialmente com suas agendas nas negociações multilaterais é necessário alcançar primeiramente um objetivo básico: dividir os movimentos indígenas e de comunidades tradicionais - particularmente o quilombola - de cima abaixo, buscando cooptar suas lideranças, desagregando suas organizações a partir dos territórios e inviabilizando qualquer tentativa de estabelecimento de alianças estratégicas entre eles; tornando-os dependentes ou reforçando diferentes modalidades de dependência. Some-se a isto, a constituição de "parcerias" entre organizações da sociedade civil e de setores da academia com poderosos grupos empresariais, bem como a imposição de condicionantes para o acesso a recursos internos e externos para o desenvolvimento de projetos comunitários/sociais. Ou seja, um conjunto de ações coordenadas que pretendem restringir a capacidade de resistência de quem se coloca contrário(a) ao "ambientalismo neoliberal" e aos interesses dos blocos hegemônicos de poder capitalista.
O outro lado da moeda da desestruturação da capacidade de mobilização e de resistência dos movimentos indígenas e de comunidades tradicionais - e de outras organizações da sociedade civil - é a despolitização do debate sobre as mudanças climáticas. O objetivo é enclausurar tal debate a questões técnicas e às "alternativas" baseadas em novas tecnologias. Tecnologias estas sob o controle dos blocos hegemônicos de poder capitalista, reforçando assim novas formas de dependência dos países do Sul Global aos do Norte Global. Sem falar que as estratégias de "esverdeamento" dos países do Norte Global passa necessariamente pela intensificação da dependência dos países, da exploração dos recursos e dos povos do Sul.
O problema é que em meio a esse cenário não conseguimos ver iniciativas que caminhem no sentido do estabelecimento do que um dia foi definido por Chico Mendes como Aliança dos Povos da Floresta. Dificuldades organizativas e financeiras, os ataques diuturnamente sofridos por povos indígenas e comunidades tradicionais contra seus membros e territórios, leituras divergentes sobre a natureza e projeto político do governo Lula e da quadra histórica que vivenciamos, além certa falta de vontade política por parte de determinados segmentos, mesclam-se e acabam contribuindo de alguma forma para engaiolar todo o potencial que dispomos de fazer avançar alternativas verdadeiramente estruturantes para resolver o problema das mudanças climáticas.
A foto de Helder Barbalho, governador do Pará, com sua comitiva em Nova Iorque quando do anúncio do acordo com megacorporações capitalistas para a venda de crédito de carbono é representativa da perda que vimos sofrendo nesse round. Vamos continuar perdendo por pontos ou o nocaute se aproxima? Ou vamos nos levantar, nos recompormos e tal como afirmou o grande boxeador Muhammad Ali diremos a nós mesmas(os) que o "impossível não é um fato, impossível é uma opinião".
Um comentário:
Gui, talvez seja mesmo o caso de construirmos vários oásis e sonhar sobrevivência de uns com outros
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