E eis que a extrema-direita saiu fortalecida na eleição ocorrida neste último final de semana ao parlamento europeu, particularmente em países como Alemanha, França e Itália. Os discursos de ódio, antimigração e contra as instituições democráticas ganharão mais espaço ainda nas agendas político-ideológicas. Evidentemente, tais resultados tendem a repercutir para além das fronteiras europeias. Caso Trump não seja impedido legalmente de concorrer às eleições estadunidenses e as vença, o quadro favorável ao extremismo se acentua ainda mais. Uma das questões que se coloca no momento é: esses resultados eleitorais são somente uma "nova" onda conservadora, ou na realidade se trata de uma tendência em escala global?
No Brasil, creio eu, não compreendemos nos devidos termos todo o significado do que foi o governo Jair Bolsonaro. Com este, os grupos sociais extremistas ganharam voz e visibilidade. O que temos hoje são movimentos sociais com grande capacidade de mobilização, capazes de interferir e pautar a agenda política nacional e que vêm crescendo em todos os cantos do país, mesmo que não uniformemente. Um projeto que articula poderes econômico e político (controle de territórios e dos recursos neles disponíveis, destruição de garantias constitucionais, fragilização das legislações socioambientais, expansão do agronegócio, padronização socioprodutiva e das paisagens etc.), fé e religião (defesa da submissão a autoridade dos/das pastores(as) e projeto de poder fundado na teologia do domínio), comunicação de massa, contínuo avanço sobre o aparelho de Estado (representação parlamentar e controle sobre órgãos de segurança pública, por exemplo), a relativização da verdade (a verdade virou mera opinião distribuída fartamente pelas redes sociais confrontando, inclusive, aquelas demonstradas cientificamente, vide o caso dos segmentos antivacina, e onde a mentira é tão somente a ponta do iceberg desse processo mais profundo); adoção de medidas para avançar o controle dos homens sobre o corpo, a mente e o trabalho da mulher, tornando-as políticas governamentais; racismo, xenofobia e homofobia.
Chega a ser risível as análises de que não podemos contribuir para o acirramento das disputas político-ideológicas no país. A extrema-direita e seus aliados fazem isto diuturnamente, pois tomaram para si a iniciativa de enfrentar e derrotar a esquerda e os setores progressistas do país. Num cenário como esse há quem pense no nosso campo que o zero a zero é um ótimo resultado. Afinal, de acordo com esse "ponto de vista", o gol é um mero detalhe.
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