Circula
pelos meios políticos a informação de que Helder Barbalho (PMDB) possui 82% de
aprovação somente na capital paraense. Mesmo que o índice não chegue a tanto é
notório a ampla base de apoio político e popular alcançado por ele não somente
aqui, mas em todo o estado. Tal situação é fruto de um conjunto de fatores,
tais como execução de diversas e vistosas obras públicas, eficiente e
profissional estratégia de marketing/propaganda, a incorporação à estrutura de
governo de caciques das mesorregiões Oeste e Sul/Sudeste do Pará na
tentativa de controlar os descontentamentos das elites locais e com isso
arrefecer o ímpeto separatista das mesmas, além da construção de amplo leque de
alianças políticas que agregam desde segmentos neopentecostais bolsonaristas
até parcela de setores progressistas, como o Partido dos Trabalhadores (PT). É
também digno de nota o choque de imagem que Helder promoveu ao longo dos
últimos anos, desde que foi prefeito do município de Ananindeua, integrante da
Região Metropolitana de Belém, revertendo em grande medida a antipatia e
ojeriza que parte significativa da população paraense nutria contra as famílias
Barbalho e Zaluth, esta última a vertente da mãe do governador.
A habilidade demonstrada para articular apoios partidários, bem
como parcerias com organizações da sociedade civil não encontra paralelo em
outros governos. Ao menos desde a retomada das eleições para governador em
1982. Talvez a referência mais próxima seja justamente com o primeiro governo
do pai dele e atual senador, Jader Barbalho. O clamor popular pelo fim da
ditadura e a possibilidade concreta de infligir derrota eleitoral contra os
militares e sua base civil/empresarial fez com que diversos setores da esquerda
à época se somassem à campanha e depois ao governo de Jader. Foram os casos,
por exemplo, de parcela do então Partido Revolucionário Comunista (PRC) - parte
abrigada no MDB e outra no PT -, MR-8, PCB e PC do B. De lá para cá nenhum
outro mandatário havia conseguido tal feito. Helder, sim. Seu governo é uma
colcha de retalhos de siglas partidárias. O que lhe garante céu de brigadeiro
não somente no parlamento. O Tribunal de Contas do Estado (TCE) que o diga.
O "novo" modelito barbalhiano inclui também a
recauchutagem no discurso político-ideológico. Profundamente comprometido com
as alternativas de mercado às crises climática e ambiental, Helder abraçou
a economia verde como elemento estruturante da sua estratégia,
inclusive para alçar voos mais longos. Com isso, cacifou-se diante de
diferentes setores da comunidade internacional - ONGs, governos e grupos
empresariais -, trouxe para sua base segmentos dos movimentos sociais e tornou-se o principal interlocutor do governo Lula na Amazônia. Com Helder
Barbalho a bioeconomia passou a ser um mantra, que a tudo
justifica e promove.
Entretanto,
o lado B helderiano comporta sólidos compromissos com o
agronegócio (soja e dendê, em especial), mineração, madeireiros, empresas dos
setores logístico e de cosméticos e, como não podia deixar de ser, com
consultores, certificadores e investidores do mercado financeiro vinculados à
economia verde. Por trás disso tudo, a implementação de diferentes iniciativas
para garantir acesso aos territórios de povos indígenas e de comunidades
tradicionais, além de áreas de conservação ambiental, à exploração empresarial nacional
e transnacional. O mercado de carbono, com estímulo à
assinatura de contratos de crédito de carbono por parte das comunidades, e
a Lei de Terras, esta aprovada pela Assembleia Legislativa do Pará,
servem de exemplo.
Enquanto
isso, os crimes socioambientais continuam a solta no estado. É o que ocorre no
município de Barcarena, cujo Distrito industrial até hoje não possui sequer
licença ambiental. Também podemos incluir as ações das mineradoras Hidro e
Imerys em territórios quilombolas (no município de Moju, por exemplo) e do povo
Tembé (Tomé-Açu); o apoio irrestrito à construção da Ferrogrão - que
promoverá destruição em larga escala nos territórios do povo Munduruku (Oeste
do Pará), a instalação de portos que atingirão diversas comunidades ribeirinhas - Maicá, em Santarém, e no Baixo Tocantins.
Outro passo
importante na recauchutagem da imagem familiar foi o estabelecimento do
"acordo de paz" com os Maiorana, representantes locais das
organizações Globo. Evidentemente, tal acordo passou pela retomada da
veiculação de propaganda oficial nos veículos de comunicação de propriedade
daquela família, entre outras medidas. O fato é que os "radicais" da
família perderam poder interno e Helder passou a contar com a
"simpatia" do grupo empresarial.
A tendência predominante é que Helder Barbalho eleja a maior parte
dos(as) prefeitos(as) e dos(as) vereadores(as) paraenses em outubro próximo,
com a direita/extrema-direita dentro e fora desse arco de alianças conquistando
fatia importante dos governos locais. Já os setores progressistas e de esquerda
devem manter-se como coadjuvantes nesse processo. Nada indica o contrário até
este momento.
A perda das eleições em Belém por parte da esquerda é uma
possibilidade real. Eder Mauro, o pré-candidato de extrema-direita, tem chances
de obter uma votação relevante. Contudo, quando Helder colocar as máquinas
governamental e partidária para funcionar as chances do delegado miliciano
devem reduzir-se consideravelmente. Talvez, para Eder Mauro, as próximas
eleições sejam apenas um teste em vista do seu objetivo principal: eleger-se
senador em 2026.
Uma das formas de
enfrentar esse processo avassalador passaria pelo estabelecimento de alianças
estratégicas dos movimentos sociais em torno de candidaturas de esquerda nos
diferentes municípios. Creio ser um erro deixar tarefa tão importante nas
mãos exclusivas das direções partidárias e às suas lógicas internas de
disputas, porque precisamos de pessoas comprometidas com as lutas populares e
suas pautas. Para nós, pouco adianta que sejam eleitas figuras que, mesmo sendo
de partidos de esquerda ou do campo progressista, estejam mais próximas de uma
agenda liberal - a consolidação do mercado de carbono, por exemplo. É
importante que as eleições sejam mais um passo na construção de um campo
contrahegemônico. É disso que precisamos.