Durante muito tempo o discurso conservador repetiu como um mantra a ideia de que a esquerda é quem promovia a luta de classes, que está somente existia por conta da atuação de grupos sociais avessos à democracia e ao diálogo. Tal argumento, incutido diuturnamente nas mentes das pessoas pelas escolas e outros aparelhos ideológicos do Estado; além dos meios de comunicação, instituições e demais instrumentos disponíveis aos capitalistas, serviu de base para perseguições, prisões e assassinatos de socialistas, comunistas, humanistas e libertários de diferentes matizes.
Ocorre, porém, que a luta de classes não é uma invenção, uma ideia ou devaneio de uma ou outra pessoa, de um ou outro grupo social. A luta de classes atravessa a sociedade. É material. Movimenta a história. Produz avanços e retrocessos. Aponta caminhos possíveis e produz incertezas. Destrói o velho, faz surgir o novo e retoma o passado continuamente. Não é algo que possa ser abolido, ou negligenciado. Todos e todas estão envolvidos(as), são sujeitos. Queiram ou não.
Entretanto, parte do que poderia ser denominado de esquerda acreditou que era possível alterar estrutural e profundamente a sociedade por medidas de conciliação, como se elas fossem capazes de suprimir a luta de classes. Foi assim com a experiência da II Segunda Internacional Socialista ao final do século XIX, tem sido assim em muitos governos chamados progressistas na atualidade. Portanto, ganhou musculatura a ideia de pactos envolvendo atores sociais com capacidade de poder diametralmente distintas. Um acordo entre o leão e a gazela, pra ficarmos nas referências do mundo não humano.
Eis que a burguesia brasileira resolveu romper o pacto de mediocridade e dizer em alto e bom som: Queremos tudo o que acreditamos nos pertencer e vocês nos entregarão por bem ou por mal, sem intermediários, sem complacência. A partir de então declarou guerra aberta. Foi um adeus à "guerra de posição". Agora é "guerra de movimento", de extermínio das conquistas sociais, de destruição da democracia, do desmantelamento do Estado, da subserviência completa aos ditames das forças do mercado - do laissez-faire, da criminalização dos movimentos sociais, do não reconhecimento de direitos, da imposição de padronizações, do desprezo à diversidade, do individualismo, da fé sem espírito, do rechaço à solidariedade; do lançar novamente milhões de pessoas à fome e impossibilitá-las do acesso à educação, ao lazer e à cultura.
A "esquerda" que já imaginava viver em outro momento encontra-se atônita: Como os empresários se puseram contra mim se no meu governo eles ganharam dinheiro como nunca antes? Como a Globo se tornou artífice do golpe se investi tantos milhões em propaganda? O problema é que a luta de classes nunca foi negligenciada por eles, nunca deixou de fazer parte do seu programa. É a execução deste que experimentamos em toda sua crueza.