Primeiramente vamos limpar o meio de campo. Se você apóia o impeachment, mesmo sabendo que não foi configurado crime de responsabilidade contra a presidenta, sinto dizer-lhe: sim, você é golpista, por convicção ou por omissão. Há ainda a possibilidade de apoiar a destituição de Dilma Roussef por acreditar firmemente que determinado candidato ou candidata do seu agrado vai capitalizar o descontentamento da população e, quem sabe, se tornar o/a novo(a) mandatário(a) do país. Esta é, sem dúvida alguma, uma aposta perigosa, pois não há qualquer garantia de que a crise atual não resulte em um regime autoritário, não necessariamente uma ditadura militar. Aliás, de uns anos para cá temos vários exemplos de mobilizações sociais que não resultaram em regimes democráticos.
Em segundo lugar é preciso enfrentar alguns argumentos petistas. Grande parte da responsabilidade por tudo o que está acontecendo é sim do PT. Seu amoldamento às práticas patrimonialistas das elites políticas, suas alianças eleitorais - algumas espúrias - contribuiu para que hoje o Brasil tenha se tornado refém de uma quadrilha; além disso, não promoveu as reformas estruturais que o Brasil tanto necessita: não fez a reforma agrária, não democratizou os meios de comunicação e a propriedade, não taxou as grandes fortunas e não realizou a reforma política. Esta poderia ter evitado muitos dos transtornos porque passa nosso país.
Nesta semana vi pela internet uma foto dos anos 1980 em que estavam alguns dos fundadores do PT, entre eles o grande Manoel da Conceição, líder camponês do Maranhão. Quando lembro das alianças que o PT fez com a família Sarney, talvez a mais antiga casta de "coronéis" ainda atuantes no país e que controla boa parte do aparelho do Estado e das riquezas daquele estado, inimiga declarada dos(as) trabalhadores(as); e, ao mesmo tempo, das medidas que lançaram ao limbo partidário Manoel da Conceição e tantos(as) outros(as) petistas que se batiam contra a estratégia do partido para alçar o poder, fico com a sensação de que o PT realmente mereceu tudo o que está passando.
Defender o país do golpe em andamento não é defender o governo Dilma. Somente os/as petistas e alguns dos seus aliados relacionam uma coisa e outra. Uma parte considerável dos movimentos sociais e das pessoas que bradam contra o impeachment não pensa dessa forma. Para estes o PT deve sim explicações ao país. Contudo, chama atenção o discurso vago petista "sim, erramos, precisamos reconhecer", mas que nunca deixa explícito que erros estão sendo realmente reconhecidos. Não, não podemos aceitar tal postura. O por quê? Porque toda a esquerda está sendo alvo da extrema direita. Esta não quer somente tirar o PT do poder. Pensar dessa forma é deixar de fora o substancial: os apologistas da ditadura e seus aliados querem mesmo é destruir todas as forças de esquerda e progressistas deste país. É disso que se trata.
Os/As que contestam a estratégia petista adotada até aqui têm claro que não adianta o PT ficar no poder para aplicar uma agenda conservadora, da direita. Daí que em meio as mobilizações procura construir sua própria agenda política, econômica e social. Tal objetivo vai ser um dos nossos principais desafios.