Sejamos sinceros: a oposição partidária de viés conservador não teria tamanho poder de influência no Brasil se não fosse a mídia corporativa. Tal oposição não tem base popular justamente porque não possui qualquer compromisso com a superação das históricas desigualdades que nos assolam. Por incrível que pareça o único partido que rumava para se tornar socialdemocrata era o PT, mas os caminhos seguidos por este podem não levá-lo nem a isso. As empresas de comunicação se constituíram no intelectual orgânico do fascismo made in Brasil. Elas pautam a agenda política nacional e definem as estratégias que serão adotadas em diferentes espaços de poder, particularmente no Congresso Nacional. Sem essa mídia PSDB, DEM, Solidariedade, PTB e outros estariam em maus lençóis. O PSDB, por exemplo, pode ser comparado a um quarto escuro com pessoas armadas de faca. Ninguém confia em ninguém e ao mais leve contato haverá ao menos um morto ou ferido.
A mídia corporativa se tornou uma máfia corporativa, cujos métodos para eliminar seus adversários matariam de inveja Al Capone. Ocorre que essa mesma mídia também se engalfinha e apresenta rachas internos por conta de distintos interesses comerciais, políticos e ideológicos em jogo. Exemplo disso é o conflito instalado entre a Globo e canais religiosos de diversas denominações (muitos pentecostais) pela audiência. Além disso, a internet tem contribuído ao crescente sangramento das TVs abertas, fazendo com que a troca de jabes, diretos e cruzados entre elas atinjam, inclusive, as partes sensíveis dos adversários.
O problema é que numa débil democracia como a nossa a ação da máfia corporativa contribui para aprofundar o definhamento das instituições e aumentar a descrença das pessoas na política. Aliás, a despolitização das política é parte constitutiva da estratégia de neoliberais e seus aliados para manterem-se no controle do Estado e avançarem sobre outros espaços de exercício do poder. Contudo, é preciso ressaltar também o papel desestruturante executado pelo PT para o sucesso desse empreendimento. Este levou a esquerda brasileira a uma situação muito difícil por conta da sua adesão voluntária às velhas e corruptas práticas para se manter no poder.
Enfrentamos os mesmos problemas estruturais da época em que se instalou a ditadura civil-militar no nosso país: não houve reforma agrária, não se distribuiu a riqueza, os meios de comunicação não foram democratizados e o poder continua concentrado, talvez como nunca antes na história do Brasil; e num planeta cada vez mais globalizado, onde o poder das transnacionais se tornou extremamente perigoso à nossa própria sobrevivência enquanto espécie. Estamos falando de 52 anos. Não é pouco. Quanto tempo até a retomada do vigor massivo da luta pela esquerda? Não é possível dizer. Mas a história é um livro em aberto...