Parece evidente que a oposição política de viés conservador no Brasil sobrevive graças, fundamentalmente, ao intenso trabalho da mídia corporativa. Esta sim demonstra ser o principal partido arregimentador das forças retrógradas que combatem sistematicamente tanto o Partido dos Trabalhadores à frente do governo federal quanto as organizações de vertente anticapitalistas. É bem verdade que o PT colhe o que plantou. Aliás, o que deixou de plantar posto que renunciou completamente à luta pela democratização dos meios de comunicação durante os mandatos de Lula e Dilma Roussef. Somente agora, por conta dos virulentos ataques contra a re-candidatura da atual mandatária, é que se ouve expoentes do partido balbuciarem algumas palavras nesse sentido.
O veneno está disseminado na sociedade brasileira. Jornalistas defendem publicamente a execução de linchamentos; o "medo do comunismo" voltou a ser utilizado como arma de combate contra quem ouse defender algo que mesmo de longe fira os interesses das grandes corporações midiáticas e de grupos empresariais brasileiros ou transnacionais - o macarthismo não morreu! -; as forças de repressão do Estado são utilizadas para reprimir qualquer ato de transgressão da ordem, mesmo quando realizadas pacificamente; movimentos sociais e suas lideranças são criminalizados; os conflitos sociais são judicializados pelos grupos conservadores porque sabem que controlam essa arena; direitos conquistados pela sociedade com muita luta e esforço sucumbem diante da lógica do mercado; a mercantilização da vida avança a passos largos, restringindo, inclusive, a própria ideia de cidadania que passa a ter o consumo como o seu equivalente; noções como desenvolvimento e progresso servem de sustentação para toda sorte de abusos contra povos indígenas e comunidades tradicionais, bem como servem de base político-ideológica para justificar a destruição da natureza; o fanatismo religioso ganha cada vez mais espaço no legislativo e seus adeptos realizam perseguição implacável contra os direitos das mulheres, homossexuais e os afro-religiosos, entre outros. Há quem defenda abertamente o retorno da ditadura. A sociedade deve aceitar a justificativa de que isto se trata do exercício da liberdade de expressão? Tal como os alimentos que consumimos, o ambiente social brasileiro segue perigosamente envenenado.
O medo é uma arma à disposição de grupos de diferentes matizes políticos e ideológicos |
Entretanto, o veneno também é expelido por aqueles que fazem a defesa do bloco de poder e do projeto político que comanda o Estado brasileiro na atualidade. No Brasil, fazer oposição a esse bloco de poder a partir de uma plataforma anticapitalista significa sofrer toda sorte de "constrangimentos": enfrentar processos ou ser alvo de calúnias e/ou difamação - vide o caso das integrantes de movimentos de mulheres que lutam contra a construção da hidrelétrica de Belo Monte, em Altamira, no Pará. Para quem afirma que o que digo é um exagero lembro ainda os casos das duas lideranças indígenas recentemente presas pela Polícia Federal. Uma delas, inclusive, foi impedida de assistir a canonização do padre Anchieta, em Roma. A outra foi acusada por fazendeiros da Bahia de incitar "ações criminosas" contra a sagrada propriedade privada e foi devidamente "enquadrada".
O combate promovido pelos defensores do projeto capitaneado pelo PT é generalista ao ponto de enquadrar toda a oposição num único bloco: os "coxinhas". Essa generalização, evidentemente, pasteuriza os conteúdos da crítica, transformando-os em algo insípido e incolor. Nesse sentido, atinge plenamente seu objetivo político: igualar a todos como retrógrados. Dessa forma, contribuem para o envenenamento do ambiente social brasileiro, pois não se abrem ao debate verdadeiramente necessário sobre para onde queremos ir e por qual caminho.