A extrema-direita sentiu profundamente a mobilização da sociedade civil brasileira em torno de duas questões sensíveis ao consórcio das elites que controla a riqueza nacional, a representação política, os principais aparelhos ideológicos e as narrativas criadas a partir deles: a taxação dos super-ricos e o fim da escala 6x1 de trabalho. Nos últimos anos foram poucas as vezes que vimos a extrema-direita nas cordas, sem saber responder a altura aos ataques sofridos, sem poder de revide. Em que pese sabermos que ela está buscando se recompor para retomar o comando da pauta política.
Todavia, é importante ressaltar que o baque sentido pelos setores conservadores ocorreu quando as iniciativas do nosso campo político romperam as "barragens institucionais" que nos têm aprisionado, representada particularmente pelo Congresso Nacional; mesmo a contragosto de alguns dos "nossos", que preferem manter os movimentos sociais tutelados à institucionalidade burguesa, pois dela usufruem vantagens diversas.
É interessante perceber a acomodação do "progressismo" no Brasil aos estreitos limites da ordem liberal burguesa, privilegiando os arranjos políticos com a centro-direita na montagem de chapas eleitorais, bem como difundindo a ideia de que a realização regular de eleições é, por si só, a personificação acabada da própria democracia. Porém, até determinados dispositivos legais previstos na democracia burguesa são comumente negligenciados por partidos progressistas e mesmo de esquerda. Quantas vezes os governos do nosso campo realizaram plebiscitos, referendos e outros meios para aferir o que realmente pensa a maioria da população brasileira? Ao menos no Pará, isso jamais ocorreu. E no seu estado e município?
Uma forma de manter a extrema-direita na corda e tentar diminuir o apoio que ela obteve junto a parcelas expressivas da população seria realizar campanha por um plebiscito formal em torno da jornada de trabalho e da taxação dos super-ricos. Constranger a extrema-direita a defender publicamente a não taxação ou posicionar-se contra a justiça tributária. Imaginem esse debate durante as eleições do ano que vem. Dessa forma, romperíamos com os limites impostos pelo Congresso Nacional e a mídia corporativa, em especial; desnudaríamos as falácias/narrativas dominantes em torno dessas questões, realizaríamos uma ampla experiência educativa. Mas é preciso ter vontade política para alavancar a mobilização social. O governo Lula, o PT e alguns de seus aliados estariam dispostos a isso? Ou é mais cômodo continuar sendo refém do Centrão e dos arranjos eleitorais daí oriundos? Os movimentos sociais já se decidiram.