Na reportagem exibida no último domingo (dia 27/04) durante o Fantástico, programa da Rede Globo, o repórter mostrou-se fascinado pela capacidade dos computadores quânticos de darem respostas em poucos minutos a questões que poderiam levar alguns sestilhões de anos pelo sistema convencional em vigor. Realmente não há como ficar indiferente a essa tecnologia que, entre outras conquistas, pode contribuir a tratamentos que levem à cura de várias doenças ainda existentes. O problema é que a crença cega na tecnologia pode resultar em ilusões e a novas formas autoritárias de controle social, bem como a relações ainda mais desiguais de poder. Marx já alertava em pleno século XIX sobre a possibilidade de a tecnologia ser empregada para aumentar o poder, a riqueza e a exploração dos(as) trabalhadores(as) por parte da burguesia, justamente por ela não ser "neutra" e integrar uma sociedade dividida em classes, cujos interesses são antagônicos.
Em determinado ponto da reportagem foi afirmado que os computadores quânticos podem, inclusive, nos ajudar a salvar o planeta. Aqui reside dois problemas fundamentais. O primeiro é que a Terra não precisa de nós para continuar existindo. Se alguém precisa ser "salvo" somos justamente nós, que podemos desaparecer enquanto espécie graças ao processo destrutivo em larga escala oriundo da expansão desenfreada do grande capital - particularmente o financeiro. O segundo é que reforça a perspectiva ideológica de que a solução para as crises climática/ambiental se dará inevitavelmente pela tecnologia e não pela política, tão a gosto de certo ambientalismo de mercado. Contudo, quem de fato controla as "novas tecnologias"? Quem tem o poder real de definir prioridades?
Esse fetichismo tecnológico tem grande capacidade de sedução, enormemente ampliado pelas mensagens emanadas através mídia corporativa e das redes ideológicas utilizadas pela burguesia para fazer com que seus valores de classe sejam compreendidos como valores universais da sociedade. As sereias* da mitologia grega também tinham grande poder de sedução, mas os navios afundados e os marinheiros que se lançavam ao mar diretamente aos "braços da morte" nos ensinam sobre os perigos de certos "encantamentos".
* As sereias (Séphora) eram criaturas híbridas, com corpo de ave e cabeça de mulher, que atraíam os marinheiros com seus cantos sedutores, levando-os à morte.