As direitas
brasileiras assumiram o protagonismo da luta político-ideológica no nosso país. A
bem da verdade esse protagonismo das direitas se dá atualmente em escala global, tendo as
esquerdas enormes dificuldades para se contrapor a tal ofensiva de modo também
global. É muito importante ressaltarmos esse caráter plural tanto da direita
quanto da esquerda. Caso contrário, deixaremos de lado características
relevantes de uma e de outra. No Brasil, as direitas se unificaram em torno da
derrubada do governo capitaneado pelo PT e contra as políticas que bem ou mal
minoraram o terrível quadro de desigualdades sociais que atravessam nosso país,
como as cotas raciais e mesmo o Bolsa Família, entre outras, pois o PT não
efetivou realmente qualquer mudança estrutural que colocasse em xeque o poder
das elites.
Tudo parece
indicar que há segmentos ultraconservadores, cujas bases ideológicas são
pré-Iluministas, a capitanear a disputa política global e que são profundamente
comprometidos com a globalização hegemonizada pelo capital financeiro ao mesmo
tempo em que, do ponto de vista social, buscam nos remeter ao século XVIII. Uma
tentativa de cruzar elementos dos séculos XXI e XVIII na construção de uma nova (des)ordem social. Os pactos que foram construídos historicamente a partir do
Iluminismo e que resultaram na Declaração Universal dos Direitos Humanos, na
ideia de universalização de direitos, entre outras conquistas, vêm sendo sistematicamente desconstruídos por essa direita. Sua mensagem é clara: Cada um por si, nada de Estado de bem
estar social ou algo do tipo, quem quiser algum benefício que busque no
mercado. Daí a violência dos ataques a qualquer forma de solidariedade ou de
políticas públicas includentes. No lugar da solidariedade a adoção de práticas
assistencialistas, de preferência de caráter individual e compensatórias. No
campo ambiental, nada de amarras legais à livre expropriação de territórios e
de seus povos pelos grandes conglomerados econômicos transnacionais; no máximo,
medida mitigatórias que em nada diminuem os sofrimentos das pessoas atingidas.
No campo político, a "construção de heróis" supostamente capazes de
salvar a nós todos de nós mesmos (Sergio Moro, Bolsonaro, Luciano Huck e
outros), a partir de pautas calcadas num falso moralismo, sexista, homofóbica,
racista, com uso inteligente do medo para angariar simpatia de amplas camadas da
população, da promoção de medidas criminosas para a resolução de conflitos
(assassinatos, uso da "justiça" para combater adversários (lawfare),
perseguição, campanhas de calúnia e destruição de biografias através das redes
sociais e mídia corporativa etc.) e de suposta defesa da família para galgar
postos de comando no aparelho dos Estados. Tudo para garantir a captura da
democracia pelo neoliberalismo e suas corporações. É isto o que representa o
governo golpista de Michel Temer e seus asseclas. É o governo da cleptocracia[1] a
serviço do capital financeiro internacional. Some-se a isto tudo a implementação de uma consistente estratégia
voltada à criminalização da política, a sua despolitização, diuturnamente
martelada por veículos de comunicação como a Globo e seus pares; a adoção de
políticas regressivas capazes de reconduzir milhões de pessoas ao mapa da fome,
a pactuação com o crime organizado (em especial o tráfico de drogas) e o desmantelamento
do aparelho do Estado.
O conservadorismo aprofunda suas raízes. Evidentemente,
tudo isto tende a resultar no recrudescimento dos conflitos em larga escala. As
elites não deixarão de ser cobradas. A que ponto e a escala de tais cobranças dependem
de muitas condicionantes. Tal como afirmam diversas análises o Brasil parece ter se convertido
num laboratório global de uma nova fase neoliberal, assim como o Chile o
foi na década de 1970 antes de Reagan e Thatcher assumirem o comando desse processo. Nossa capacidade resistir e
de impor derrotas a este projeto está sendo testada e isto servirá de lição para novos experimentos em outros países. As direitas já deram
mostras de que se preparam para a convulsão social. A ditadura é uma escolha
plausível para elas, pois não possuem qualquer compromisso com a democracia.
[1] A
palavra “cleptocracia” significa “Estado
governado por ladrões”, literalmente. O termo se refere a um tipo de governo no
qual as decisões são tomadas com extrema parcialidade, indo totalmente ao
encontro de interesses pessoais dos detentores do poder político.